Banição de advogados no Madison Square Garden expõe disputa entre James Dolan e escritórios de Nova York

Leonardo Monteiro

Nova York – Desde 2022, mais de mil advogados pertencentes a cerca de 90 escritórios foram impedidos de entrar no Madison Square Garden (MSG) e em outros espaços controlados pelo grupo de entretenimento de James Dolan, como Beacon Theatre, Radio City Music Hall, Chicago Theatre e Sphere, em Las Vegas. A proibição, aplicada a profissionais que representam clientes em ações contra as empresas de Dolan, vem sendo reforçada por cartas formais e reconhecimento facial, criando um impasse inédito entre o proprietário das casas de show e parte significativa da comunidade jurídica da cidade.

O procedimento se inicia com um comunicado oficial enviado por serviço expresso ao escritório envolvido em litígio. O texto informa que todos os advogados da firma, independentemente de participação direta no processo, estão proibidos de acessar qualquer arena ou teatro administrado pela holding “até que a disputa seja resolvida”. Os bilhetes já adquiridos são automaticamente anulados, sem restituição.

A estratégia ganhou notoriedade após a revelação, em dezembro de 2022, de que o MSG utilizava reconhecimento facial nas catracas para identificar nomes incluídos na lista de exclusão. O caso de uma mãe que acompanhava o grupo de escoteiras da filha ao Radio City Music Hall mobilizou a imprensa local e motivou ofício da Procuradoria-Geral do Estado em janeiro de 2023, questionando possíveis violações de direitos civis. Em decisões posteriores, porém, os tribunais confirmaram o direito da companhia de negar entrada em suas propriedades.

Para Dolan, a medida é uma extensão do controle sobre um espaço privado; para os afetados, representa instrumento de intimidação destinado a desestimular ações judiciais. Personal injury attorneys, que concentram a maioria dos processos por acidentes em eventos esportivos ou musicais, formam o núcleo do grupo banido. Uma única firma, Morgan & Morgan, presente em todos os 50 estados norte-americanos, mantém mais de 1 000 advogados e permanece no topo da lista desde que criou o site SueMSG.com para captar novos clientes contra o conglomerado.

O impacto vai além do âmbito profissional. Em maio de 2025, quando o New York Knicks avançou às finais da Conferência Leste pela primeira vez desde 1994, o advogado Justin Brandel, residente em Manhattan, desejava assistir à partida, mas recuou diante da possibilidade de ser escoltado para fora do ginásio mesmo pagando valores superiores a US$ 1 000 pelo ingresso. Embora o processo que motivara sua punição estivesse encerrado, ele não recebera confirmação formal de readmissão.

Situações similares se repetem. Mark Seitelman foi informado da proibição na véspera do Natal de 2024, pouco após processar o MSG por queda de um cliente. Seth Diamond, sediado em Savannah, planejava levar o filho de sete anos a um jogo do New York Rangers durante as férias escolares; ao atravessar o detector de metais, foi separado do menino e orientado a deixar o prédio. Dan Watts, torcedor de St. John’s, conseguiu driblar o sistema duas vezes usando falha de cadastro, mas acabou identificado e retirado do local na terceira tentativa.

A extensão da lista inclui até quem não litiga. O designer Frank Miller Jr. passou a integrar o grupo após criar, em 2017, uma camiseta com os dizeres “BAN DOLAN”. Em 2021, um comprador foi expulso do MSG por usar a peça; em março de 2024, o próprio Miller foi barrado no Radio City, onde pretendia comemorar o aniversário de casamento dos pais.

As organizações de Dolan não detalham o funcionamento do banco de imagens nem quantas pessoas atuam no monitoramento. Advogados relataram ter visto fotos profissionais, retiradas dos sites dos escritórios, exibidas em tablets pelos seguranças. A ausência de padrão favorece rumores sobre exceções ou falhas — há quem diga já ter assistido a concertos ou competições universitárias sem problemas, enquanto outros são detidos logo após o raio-X.

Quando o litígio é encerrado, o MSG envia nova carta comunicando que “todos os advogados poderão voltar a frequentar os locais”. Joseph DePaola recebeu o documento em agosto de 2023, depois de um ano afastado. Outros seguem aguardando. Para alguns, a experiência se transformou em motivo de orgulho e combustível para novas ações. Segundo DePaola, o precedênte preocupa: nenhuma outra arena importante do país adota política semelhante de exclusão coletiva de profissionais do direito.

Enquanto a disputa persiste, shows, jogos da NBA e da NHL e eventos como o Westminster Kennel Club Dog Show continuam inacessíveis a centenas de integrantes da lista. Mesmo com gastos significativos em batalhas judiciais e tecnologia de vigilância, Dolan mantém a política, sustentando que “quem processa a casa não é bem-vindo como cliente”. Do outro lado, advogados veem na medida a confirmação de que as cortes ainda serão palco de embates longos — agora, fora das arquibancadas.

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