São Paulo – Nike e Corinthians formalizaram nesta sexta-feira (15) a extensão do acordo de fornecimento de material esportivo por mais dez anos, prorrogando a parceria até 2035. O novo compromisso garante a continuidade de uma relação iniciada em 2003 e que, ao final do ciclo, completará 32 anos, uma das mais longas do futebol nacional.
Conforme apurado, o contrato assegura ao clube luvas de R$ 100 milhões pagas em três parcelas ainda em 2024. A primeira foi depositada em agosto; as outras duas entrarão no caixa até dezembro. Além do montante inicial, o Corinthians receberá um valor fixo anual de R$ 59 milhões, corrigido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O acordo também prevê bonificações por desempenho, válidas para títulos e vice-campeonatos em competições de expressão. Há ainda um mecanismo de royalties que garante ao clube R$ 25 por unidade quando a venda anual de produtos superar 750 mil peças.
Segundo a direção corintiana, a renovação chega em momento de instabilidade financeira. O clube discute com o Santos Laguna a quitação de US$ 6,145 milhões referentes à contratação do zagueiro Félix Torres, dívida que resultou em punição da Fifa. O reforço de caixa proveniente da Nike é visto como apoio relevante no processo de ajuste das contas.
O caminho até a assinatura incluiu concorrência direta com a Adidas. A empresa alemã apresentou oferta estimada em R$ 1,2 bilhão por dez anos, baseada em remuneração variável, royalties a partir de 1 milhão de peças e participação ampliada em marketing e desenvolvimento de uniformes. O Corinthians, entretanto, avaliou o risco de acionar cláusula de renovação automática que a Nike mantinha no contrato vigente. Temendo litígio e multas, o clube optou pela continuidade com a parceira atual, que igualou e superou pontos cruciais da proposta rival.
Para a Nike, o acordo se encaixa em estratégia de reforçar a presença no futebol brasileiro. Após período concentrado apenas no Corinthians e na seleção, a marca retomou investimentos em múltiplos clubes. O Vasco terá fornecimento a partir de 2025 por sete temporadas, e o Atlético-MG receberá material da empresa em 2026. Negociações foram abertas com o Grêmio, mas o clube gaúcho tende a assinar com a New Balance.
A operação local da Nike é conduzida pela Fisia, empresa do Grupo SBF. No segundo trimestre de 2025, a distribuidora reportou receita líquida de R$ 1,046 bilhão, alta de 5,6% ante igual período de 2024. O lucro bruto recuou 2,8% no intervalo, influenciado pela valorização do dólar, que encareceu produtos importados e comprimiu a margem bruta de 44% para 40,5%.

Imagem: maquinadoesporte.com.br
Considerando todo o Grupo SBF, o lucro líquido ajustado alcançou R$ 87,2 milhões, com margem de 4,8%. A dívida líquida foi reduzida em 33,1%, encerrando o trimestre em R$ 506,1 milhões. A alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda, baixou para 0,68 vez.
O novo compromisso com o Corinthians inclui cláusulas de incentivo por conquistas nacionais e internacionais, mantendo o modelo que vigora desde a chegada da Nike ao Parque São Jorge. O clube seguirá responsável pela criação de linhas de produtos licenciados, enquanto a fornecedora concentrará distribuição em lojas próprias, parceiros multimarcas e canais digitais.
Do ponto de vista de marketing, a Nike pretende intensificar ativações com a torcida, lançar coleções temáticas e ampliar a exposição nos campeonatos. O calendário de uniformes, que tradicionalmente envolve ao menos duas camisas principais por temporada, deverá contar com edições comemorativas ligadas às datas históricas do clube.
Com a renovação, o Corinthians assegura receita anual indexada à inflação, luvas elevadas e participação nas vendas, enquanto a Nike fortalece sua estratégia de retomar protagonismo no mercado brasileiro de futebol e expande a visibilidade da marca na Série A.