Durante a assembleia-geral realizada no Parque São Jorge, mesma reunião que decidiu pela destituição de Augusto Melo da presidência, o Corinthians apresentou um balanço dos primeiros meses de funcionamento do sistema de reconhecimento facial na Neo Química Arena. O diretor de tecnologia do clube, Marcelo Munhoes, relatou avanços no controle de acesso, crescimento no número de sócios ativos e identificação de falhas na distribuição de bilhetes.
O uso da biometria facial tornou-se obrigatório em estádios com capacidade superior a 20 mil lugares após a promulgação da Lei Geral do Esporte. Para cumprir a exigência, o Corinthians instalou câmeras em todos os portões, integrou o banco de dados ao programa Fiel Torcedor e passou a exigir a validação da imagem para liberar a catraca. Mesmo com curto período de testes, o sistema apresentou taxa de erro de 0,2% — 62 ocorrências em aproximadamente 35 mil entradas registradas na partida contra o Fortaleza — índice muito inferior à média de 2% a 3% observada em arenas que já utilizavam tecnologia semelhante.
A mudança tecnológica provocou reação imediata entre os torcedores. Segundo Munhoes, cerca de 20 mil novos cadastros foram efetuados no Fiel Torcedor desde a implantação da biometria. Parte relevante desse contingente era composta por associados inadimplentes, que regularizaram a situação para recuperar o direito de comprar ingressos. O dirigente atribui o movimento ao novo critério de pontuação: mesmo quem possui pontuação baixa passou a visualizar disponibilidade real de bilhetes, o que estimula a adesão e a quitação de débitos.
Apesar dos resultados operacionais positivos, a média de público nos jogos em casa caiu após o início da verificação facial obrigatória. Antes da pausa para o Mundial de Clubes, a Neo Química Arena recebia por volta de 43 mil pessoas por partida. No retorno, o número recuou. Além da necessidade de registro biométrico, três fatores contribuíram para o esvaziamento: o fim da distribuição de aproximadamente 3 mil cortesias por jogo, a proibição de transferências de ingressos entre titulares de planos (com exceção do Minha Cadeira) e ajustes iniciais na plataforma de vendas, que provocaram instabilidade nos primeiros dias.
Para entender a queda de público, o departamento de tecnologia iniciou, em 27 de maio, auditoria interna sobre o fluxo de ingressos. A análise cruzou dados de acessos, cadastros e vendas concluídas, revelando utilização irregular de bilhetes em diferentes setores. O relatório entregue ao Conselho Deliberativo apontou mais de 8 mil entradas fora dos canais oficiais do Fiel Torcedor. Entre os problemas identificados estavam cortesias distribuídas sem destinação formal, logins multiplicados para driblar limites de compra e cadeiras pertencentes a planos que permaneciam vazias, embora registradas como ocupadas.
Com base no levantamento, o clube cancelou entre 4 mil e 4,5 mil ingressos vinculados a logins suspeitos, encerrou concessões gratuitas sem justificativa e recolocou no sistema cerca de 500 assentos do plano Minha Cadeira que não vinham sendo ofertados. Somadas, essas medidas devolveram mais de 8 mil bilhetes ao mercado, aumentando a disponibilidade para os sócios adimplentes e para o público em geral.

Imagem: meutimao.com.br
Munhoes destacou que o cenário atual representa uma “fotografia do momento” e que novos ajustes podem ocorrer à medida que o comportamento do torcedor se adapte às regras de biometria e às modificações no Fiel Torcedor. O dirigente reforçou que o objetivo é combinar segurança com ocupação máxima do estádio, garantindo transparência na comercialização de entradas e evitando distorções que prejudiquem quem segue os procedimentos oficiais.
Os resultados iniciais da reestruturação serão testados novamente no próximo sábado, 16 de agosto, quando o Corinthians recebe o Bahia pela 20ª rodada do Campeonato Brasileiro. As vendas para o confronto foram abertas na sexta-feira anterior e já utilizam o modelo revisado de liberação de ingressos. A partida servirá como termômetro para avaliar se a reinclusão dos bilhetes recuperados e a regularização de cadastros contribuem para retomar a média de público observada antes da adoção do reconhecimento facial.
Enquanto monitora o desempenho do sistema, o departamento de tecnologia mantém a orientação de que todos os torcedores efetivem o cadastro biométrico com antecedência, atualizem dados de contato e acompanhem os canais oficiais do clube para evitar problemas de acesso. O Corinthians também planeja ampliar a comunicação sobre as regras de transferências e cortesias, na tentativa de reduzir dúvidas e reforçar a importância do cumprimento dos procedimentos exigidos pela legislação esportiva.
Com a integração definitiva entre biometria facial, bilhetagem eletrônica e base de sócios, a diretoria acredita que o Fiel Torcedor ganhará robustez e transparência, ao mesmo tempo em que a Neo Química Arena aumentará o nível de segurança nas operações de jogo. A consistência dos ganhos será aferida ao longo do segundo turno do Brasileirão e em eventuais partidas de mata-mata, quando a procura por ingressos costuma crescer.