A International Football Association Board (Ifab) autorizou que ligas e torneios de todos os continentes realizem testes com câmeras corporais em árbitros. A decisão, tomada após a assembleia geral de março, amplia uma experiência que até então se restringia às competições sob organização direta da Fifa e abre espaço para transmissões com imagens captadas dentro do gramado.
O projeto piloto foi implantado na Copa do Mundo de Clubes de 2025, disputada nos Estados Unidos. O órgão que define as regras do futebol avaliou o resultado como positivo e, por isso, passou a permitir que campeonatos profissionais solicitem a mesma tecnologia. As entidades interessadas devem pedir autorização formal ao próprio Ifab e também à Fifa, que se comprometeram a fornecer diretrizes técnicas e operacionais para padronizar a implementação.
Na prática, cada árbitro utilizará uma pequena câmera acoplada ao uniforme. O dispositivo vai gerar um novo ponto de vista para as emissoras, complementando o modelo tradicional de câmera posicionada no meio-campo, na lateral do campo, que vigora desde as primeiras transmissões televisivas. Com a inclusão das bodycams, será possível acompanhar lances a partir da perspectiva de quem comanda a partida, algo inédito no futebol profissional.
Segundo o Ifab, o objetivo principal é modernizar o produto televisivo para torná-lo mais atraente a públicos que têm se afastado das partidas de 90 minutos. Estudos internos indicam que a Geração Z costuma consumir conteúdo de forma fragmentada, alternando telas e buscando experiências interativas. A visão em primeira pessoa, ao lado de replays tradicionais e gráficos táticos, tenta aproximar o esporte de modelos já adotados em videogames ou em outras modalidades que investem em gamificação.
As ligas poderão oferecer o sinal proveniente da câmera do árbitro como transmissão paralela ou recurso adicional em plataformas digitais. O formato multitela, cada vez mais comum em serviços de streaming, é apontado como uma das chaves para prender a atenção de espectadores mais jovens, que frequentemente acompanham eventos esportivos enquanto navegam nas redes sociais.
Além do potencial de engajamento, o material gravado deve servir como ferramenta de capacitação de árbitros. Os vídeos captados em partidas oficiais poderão ser utilizados em cursos, avaliações de desempenho e programas de reciclagem. De acordo com o Ifab, imagens em primeira pessoa ajudam a reproduzir situações de jogo com maior fidelidade, facilitando o estudo de posicionamento, tomada de decisão e comunicação em tempo real.

Imagem: maquinadoesporte.com.br
No entendimento do órgão regulador, árbitros mais bem preparados tendem a cometer menos erros. Reduzir controvérsias de arbitragem é visto como fator direto para elevar a qualidade do espetáculo, diminuir críticas ao julgamento dos lances e concentrar a narrativa na atuação dos times. Consequentemente, partidas com menos interrupções e discussões podem se tornar mais atraentes para audiências que não se identificam com um clube específico.
A expectativa comercial também é relevante. Imagens exclusivas geram novas possibilidades de patrocínio, inserções de marcas e pacotes de assinatura. Ao mesmo tempo, plataformas que já oferecem estatísticas em tempo real, câmeras táticas e conteúdo sob demanda passam a contar com mais um diferencial diante de concorrentes. Para as federações, criar fontes adicionais de receita é estratégia vital em um cenário de segmentação do consumo esportivo.
Apesar da liberação, o uso das bodycams ainda não é obrigatório. Cada competição deverá analisar custos de equipamento, treinamento de arbitragem e adaptações no protocolo de vídeo. Questões ligadas à privacidade de atletas e ao direito de arena também precisam ser negociadas antes de as imagens chegarem ao público, já que o áudio captado pelo dispositivo pode registrar diálogos entre jogadores, comissões técnicas e o próprio árbitro.
O Ifab esclareceu que pretende coletar relatórios detalhados dos torneios que aderirem à novidade. A partir desses dados, o órgão avaliará a necessidade de ajustes na regra e decidirá se o recurso deve ser incorporado de forma definitiva. Até lá, câmeras corporais em árbitros permanecerão em fase experimental, mas já despontam como tentativa concreta de reconectar o futebol a uma geração acostumada a experiências digitais imersivas.