Clubes da Série A apoiam criação de normas de Fair Play Financeiro e cobram critérios equilibrados

Leonardo Monteiro

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deu início a um processo de modernização da gestão esportiva ao instituir, na semana passada, um grupo de trabalho destinado a elaborar regras de Fair Play Financeiro. A iniciativa foi debatida na segunda-feira, em assembleia que reuniu representantes dos 20 clubes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro. A reunião marcou o primeiro passo para a construção de um regulamento focado em transparência, responsabilidade fiscal e sustentabilidade de longo prazo no futebol nacional.

Durante o encontro, os dirigentes assistiram a uma apresentação de Sefton Perry, chefe de análise do Centro de Desenvolvimento da UEFA. O executivo detalhou práticas adotadas na entidade europeia, na Premier League e em LaLiga, oferecendo exemplos de mecanismos de controle de gastos, exigências de divulgação de informações financeiras e sanções aplicadas a quem descumpre as normas. O material serviu de referência para a discussão sobre o que pode ser adaptado à realidade econômica dos clubes brasileiros.

De modo geral, houve consenso de que o sistema precisa levar em conta as diferenças de tamanho, receita e torcida de cada agremiação. O presidente do Santos, Marcelo Teixeira, avaliou que o novo regulamento não deve criar privilégios nem barreiras adicionais para clubes de menor tradição. Segundo ele, a ideia é construir um caminho comum que fortaleça todas as equipes dentro de suas possibilidades, evitando distorções que favoreçam apenas quem já possui receitas maiores.

No Internacional, a direção entende que o sucesso do projeto depende de uma base legal sólida e de critérios padronizados de contabilidade. Giovane Zanardo, CEO do clube gaúcho, defende a adoção de um período de transição que permita ajustes graduais. Ele argumenta que as demonstrações financeiras precisam seguir um modelo uniforme, facilitando a comparação entre as agremiações e a fiscalização por parte da CBF.

Outro ponto levantado diz respeito à celeridade das punições. Para Marcelo Paz, CEO do Fortaleza, o futebol brasileiro carece de mecanismos imediatos contra equipes que contratam atletas sem dispor de recursos para honrar salários e direitos de imagem. Ele cita o exemplo da FIFA, onde clubes inadimplentes são proibidos de registrar novos jogadores até quitar dívidas reconhecidas. Paz também considera que barrar a participação em campo de atletas envolvidos em pendências poderia pressionar gestores a evitar compromissos além da capacidade financeira.

A necessidade de punir o mau pagador sem prejudicar quem mantém as contas em dia foi outro aspecto ressaltado. Embora o grupo entenda que sanções severas são importantes para disciplinar o mercado, muitos dirigentes admitem que medidas extremas, como rebaixamento automático ou bloqueio total de receitas, teriam resistência elevada e pouca chance de aprovação. A tendência é optar por um conjunto básico de obrigações, que inclua limites proporcionais ao faturamento, controle de folha salarial e apresentação de garantias para novas contratações.

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Imagem: mktesportivo.com

Entre os clubes de menor orçamento, o Juventude afirmou já seguir práticas compatíveis com o conceito de Fair Play Financeiro. O presidente Fábio Pizzamiglio relatou que a equipe de Caxias do Sul mantém rotina de pagamentos em dia a funcionários, atletas, fornecedores e parceiros, demonstrando que a disciplina fiscal é viável mesmo com receitas mais modestas. Para ele, o cumprimento regular dessas obrigações deveria ser regra para todo o futebol profissional no país.

Na avaliação preliminar dos participantes, a regulamentação brasileira deverá contemplar:

  • Obrigatoriedade de publicação de demonstrações financeiras anuais em padrão único.
  • Limitação do gasto com pessoal a um percentual da receita operacional.
  • Sistema de licença anual condicionado à quitação de débitos trabalhistas e tributários.
  • Sanções progressivas, variando de advertências e multas até impedimento de registrar jogadores.
  • Fase de adaptação escalonada, permitindo que clubes ajustem contratos já firmados.

O grupo de trabalho deverá se reunir nas próximas semanas para consolidar propostas e submeter um texto preliminar ao Conselho Técnico da Série A. Caso o cronograma seja mantido, a CBF pretende encaminhar o regulamento para votação até o fim do primeiro semestre. Se aprovado, o Fair Play Financeiro brasileiro poderá entrar em vigor de forma gradativa a partir da temporada de 2025, inaugurando um novo ciclo de governança no principal campeonato do país.

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