Como Desvalorizar um Ativo de R$ 100 Milhões em Tempo Recorde: A Receita do Flamengo com Pedro

Leonardo Monteiro

Se existe um manual sobre como transformar um dos maiores patrimônios do futebol brasileiro em dor de cabeça, o Flamengo está escrevendo um capítulo exemplar com Pedro. O que deveria ser a gestão inteligente de um ativo avaliado em dezenas de milhões se tornou uma novela de desgaste público que beneficia apenas os concorrentes interessados em uma pechincha.

No sábado, 12 de julho de 2025, após a vitória por 2 a 0 sobre o São Paulo no Maracanã, Filipe Luís protagonizou um dos episódios mais constrangedores da gestão de pessoas no futebol brasileiro recente. Ao ser questionado sobre a ausência de Pedro na lista de relacionados, o técnico não se limitou a explicações técnicas ou diplomáticas. Foi direto ao ponto, expondo publicamente um dos principais ativos do clube.

“O comportamento e a atitude do Pedro durante a semana foi lamentável, beirou o ridículo para mim”, declarou Filipe Luís, em palavras que ecoaram muito além das quatro linhas. O técnico rubro-negro não apenas confirmou que Pedro havia sido cortado por questões disciplinares, mas escolheu o constrangimento público como método de gestão.

Esta é a anatomia de uma crise que expõe tanto a possível falta de profissionalismo de um jogador experiente quanto a incompetência administrativa de quem deveria proteger seus próprios investimentos. Um exemplo clássico de como não fazer gestão de crise no futebol brasileiro.

A Exposição Desnecessária: Quando a Honestidade Vira Tiro no Pé

Filipe Luís pode ter sido honesto em sua avaliação, mas foi estrategicamente desastroso. Ao expor Pedro publicamente, o técnico do Flamengo entregou de bandeja uma vantagem negocial para qualquer clube interessado no atacante. Afinal, que dirigente pagará valor integral por um jogador que acabou de ser chamado de “lamentável” pelo próprio técnico?

A declaração completa do treinador foi ainda mais reveladora: “Evidentemente que o Pedro tem os seus problemas pessoais com a diretoria, com o clube, problemas dele. E não é de agora que ele vinha treinando muito mal”. Em poucas frases, Filipe Luís conseguiu confirmar conflitos internos, questionar o profissionalismo do jogador e sinalizar que os problemas são antigos – uma tríplice exposição que nenhum departamento de marketing aprovaria.

O timing da declaração também chama atenção. Pedro não participou do treino coletivo na manhã de sexta-feira, 11 de julho, sinalizando que sua exclusão estava decidida. Ter 24 horas para elaborar uma resposta mais diplomática e optar pela exposição pública sugere uma escolha deliberada pelo constrangimento.

Para um clube que se orgulha de sua gestão profissional, tratar publicamente um ativo milionário desta forma demonstra amadorismo preocupante. Pedro pode ter errado, mas o Flamengo errou em dobro ao transformar uma questão disciplinar interna em espetáculo público.

Pedro: Entre a Arrogância e a Razão

Se por um lado o Flamengo expôs desnecessariamente seus problemas internos, por outro é impossível ignorar que Pedro contribuiu significativamente para este cenário. Um jogador de 27 anos, com experiência em Seleção Brasileira e títulos importantes, deveria ter maturidade suficiente para separar frustrações pessoais do profissionalismo nos treinos.

As declarações de Filipe Luís sugerem que Pedro vinha apresentando atitude inadequada durante a semana de preparação para um jogo importante. Para um atacante que busca recuperar espaço após longa lesão, demonstrar falta de empenho nos treinos é, no mínimo, contraproducente.

Contudo, é importante contextualizar a frustração de Pedro. O atacante retornou de uma grave lesão no joelho em abril de 2025, após sete meses parado. Desde então, participou de 17 dos últimos 20 jogos do Flamengo, mas foi titular em apenas oito ocasiões. Para um jogador acostumado ao protagonismo, a situação de coadjuvante é naturalmente frustrante.

A questão é como lidar com essa frustração. Pedro optou pelo confronto interno, questionando sua utilização e possivelmente demonstrando descontentamento durante os treinamentos. Uma abordagem mais madura envolveria conversas diretas com a comissão técnica ou, em último caso, a solicitação formal de transferência.

O comportamento inadequado nos treinos, se confirmado, representa uma quebra do código básico de profissionalismo que rege o futebol moderno. Independentemente das frustrações pessoais, um atleta profissional deve entregar o máximo de si enquanto estiver vinculado ao clube.

A Incompetência da Diretoria: Como Queimar Valor de Mercado

Enquanto Pedro e Filipe Luís protagonizavam seu embate, a diretoria do Flamengo demonstrava igual incompetência na gestão da crise. José Boto, diretor de futebol, havia protagonizado episódios anteriores que contribuíram para o desgaste da relação com o atacante.

Em junho de 2025, Boto mencionou publicamente o interesse em Dusan Vlahovic, da Juventus, como perfil ideal para o ataque rubro-negro. Declarar interesse em outro jogador enquanto se tem Pedro no elenco foi, no mínimo, desnecessário e provocativo.

Mais grave foi a conversa vazada entre um dirigente do clube e o jornalista Mauro Cezar Pereira, na qual se afirmou que 15 milhões de euros seriam suficientes para vender Pedro. Esta informação expôs o valor mínimo aceito pelo clube, sinalizando para todo o mercado que o Flamengo estava disposto a se desfazer do atacante por um preço relativamente baixo – informação que certamente chegou aos ouvidos do Monterrey e outros interessados.

O interesse demonstrado pelo Monterrey em 3 de julho, nove dias antes da explosão pública da crise, mostra como o mercado já observava atentamente os sinais de instabilidade na relação Pedro-Flamengo.

O Monterrey havia demonstrado interesse em Pedro em 3 de julho – nove dias antes das declarações explosivas de Filipe Luís. O clube mexicano percebeu uma oportunidade no mercado de transferências do futebol brasileiro, mas ainda não formalizou proposta oficial. O interesse demonstrado pelo Monterrey coincide com um período de crescente instabilidade na relação entre Pedro e o Flamengo.

O Sistema Tático: Desculpa ou Realidade?

Filipe Luís e sua comissão técnica defendem que Pedro não se adequa ao sistema tático implementado no Flamengo. O argumento tem fundamento: o estilo de jogo baseado em pressão alta e intensidade constante realmente favorece atacantes com maior mobilidade e capacidade de pressing.

Pedro construiu sua carreira como centroavante de área, especialista em finalizações e posicionamento inteligente. São características valiosas, mas que exigem adaptação tática para funcionar no sistema atual. A questão é se houve real tentativa de promover essa adaptação ou se a decisão pela incompatibilidade foi prematura.

Nos últimos jogos, Filipe Luís improvisou Bruno Henrique e Gonzalo Plata como centroavantes, priorizando mobilidade sobre capacidade de finalização. A estratégia funcionou em termos de dinâmica de jogo, mas limitou o poder ofensivo da equipe em situações que exigiam presença de área.

O dilema tático é real, mas a solução não deveria passar necessariamente pela queima pública do ativo. Grandes clubes europeus lidam rotineiramente com jogadores que não se encaixam perfeitamente em determinados sistemas, mas raramente expõem essas limitações de forma tão direta.

As Limitações Regulamentares: O Tiro que Saiu pela Culatra

A situação de Pedro se complicou ainda mais devido às limitações regulamentares da CBF. O atacante já disputou oito partidas no Brasileirão 2025, superando o limite de sete jogos que permitiria sua transferência para outro clube brasileiro na mesma edição do campeonato.

Esta limitação restringe significativamente o mercado interno para Pedro, forçando-o a buscar opções no exterior caso queira deixar o Flamengo. A restrição também se aplica à Copa do Brasil, na qual Pedro atuou contra o Botafogo-PB.

A única brecha regulamentar está na Libertadores, onde Pedro poderia ser inscrito por um novo clube para as oitavas de final. Esta particularidade torna clubes sul-americanos ainda envolvidos na competição mais atraentes, mas reduz drasticamente as opções disponíveis.

Ironicamente, as limitações regulamentares que protegiam o Flamengo de perder Pedro para concorrentes diretos se tornaram um problema quando o próprio clube decidiu se desfazer do jogador. É mais um exemplo de como a falta de planejamento transformou uma situação manejável em problema complexo.

O Mercado Oportunista: Quem Ganha com a Confusão

Enquanto Flamengo e Pedro protagonizam sua crise pública, clubes interessados observam atentos às oportunidades que surgem. O Monterrey demonstrou interesse ainda em 3 de julho, mas outros mercados aguardam o desenrolar da situação para eventual investida.

Clubes europeus, que tradicionalmente pagariam valores mais altos por Pedro, agora aguardam pacientemente uma possível desvalorização adicional. A exposição pública dos problemas criou um cenário onde a urgência em resolver a situação beneficia apenas os compradores.

O Al-Hilal, que já demonstrou interesse por Pedro em 2023, pode retornar às negociações com proposta inferior à original, aproveitando-se do cenário atual. Para clubes árabes, que não se importam com questões comportamentais desde que o jogador entregue resultados em campo, Pedro continua sendo uma opção atraente.

A situação também abriu espaço para intermediários e agentes especializados em “resgatar” jogadores em crise. Estes profissionais se beneficiam da urgência das partes em resolver conflitos, frequentemente conseguindo acordos vantajosos para seus clientes compradores.

Gestão de Crise: Como Não Fazer

O caso Pedro-Flamengo serve como manual do que não fazer em gestão de crise no futebol profissional. Cada decisão tomada pelas partes envolvidas contribuiu para amplificar o problema e reduzir as possibilidades de solução benéfica. Situação que lembra outros casos de desvalorização de ativos no futebol brasileiro.

A sequência de erros começou com as declarações públicas de José Boto sobre outros atacantes, passou pela informação vazada sobre valores de transferência e culminou na exposição pública de Filipe Luís. Em nenhum momento houve tentativa real de proteção do ativo ou busca por soluções internas.

Pedro também contribuiu para a escalada da crise ao, supostamente, levar problemas pessoais para o ambiente de treino. A falta de separação entre frustrações individuais e obrigações profissionais demonstra imaturidade incompatível com sua experiência.

O resultado é uma situação onde todos perdem: Pedro tem sua imagem desgastada publicamente, o Flamengo perde valor de mercado em um de seus principais ativos, e a comissão técnica se vê obrigada a lidar com questionamentos sobre métodos de gestão de pessoas.

Cenários Futuros: Não Há Vencedores

Analisando os possíveis desdobramentos desta crise, fica difícil identificar cenários onde alguma das partes saia efetivamente vitoriosa. Cada opção disponível traz prejuízos significativos para os envolvidos.

A reconciliação exigiria Pedro admitir publicamente seus erros e Filipe Luís reconhecer que a exposição pública foi excessiva. Ambos teriam que engolir o orgulho, o que parece improvável considerando o nível de desgaste atual.

A transferência representaria admissão de fracasso na gestão interna e aceitação de valores abaixo do potencial de Pedro. O Flamengo perderia um ativo valioso por preço inferior ao seu valor real, justamente em um momento crucial do Brasileirão 2025, enquanto Pedro teria que reconstruir sua imagem em novo clube.

A permanência forçada seria o pior cenário para todos: Pedro continuaria insatisfeito e subutilizado, o ambiente interno permaneceria tóxico, e o valor do jogador continuaria se depreciando a cada mês.

A janela de transferências atual oferece uma oportunidade de encerrar o problema, mas qualquer solução será subótima comparada ao que poderia ter sido alcançado com gestão adequada desde o início.

Lições Não Aprendidas

A crise Pedro-Flamengo expõe problemas estruturais na gestão de recursos humanos do futebol brasileiro. A tendência de resolver conflitos através de exposição pública continua prevalecendo sobre métodos mais profissionais e discretos. Um contraste gritante com como grandes clubes europeus lidam com situações similares, protegendo sempre o valor de seus ativos.

Para Pedro, esta situação deveria servir como lição sobre a importância de separar questões pessoais do ambiente profissional. Independentemente das frustrações com a utilização tática ou declarações da diretoria, um atleta de sua experiência deveria ter canais maduros para expressar descontentamentos.

Para o Flamengo, o episódio demonstra a necessidade de proteger seus investimentos mesmo quando há problemas internos. A exposição pública de conflitos pode satisfazer momentaneamente o ego de dirigentes e técnicos, mas invariavelmente resulta em perdas financeiras significativas.

O futebol brasileiro continua sendo um ambiente onde ego e vaidade frequentemente superam racionalidade e profissionalismo. Enquanto esta mentalidade persistir, casos como o de Pedro continuarão se repetindo, beneficiando apenas mercados externos mais organizados e oportunistas. Um desperdício que se repete constantemente nas contratações milionárias do futebol brasileiro.


A gestão amadora desta crise beneficiou apenas os concorrentes do Flamengo e potenciais compradores de Pedro. Enquanto o clube queima um ativo valioso e o jogador destroi sua própria imagem, observadores externos lucram com a incompetência coletiva. Você acredita que ainda há salvação para esta relação ou o dano já é irreversível? Compartilhe sua análise sobre quem mais se beneficia com esta confusão e se o futebol brasileiro algum dia aprenderá a valorizar seus próprios talentos.


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