A diretoria do Corinthians trabalha para suspender o bloqueio de transferências imposto pela Fifa depois do não pagamento da aquisição do zagueiro Félix Torres. A restrição, confirmada nesta semana, impede o registro de novos atletas enquanto o clube não quitar US$ 6,14 milhões — cerca de R$ 33,1 milhões — devidos ao Santos Laguna, do México. O prazo estabelecido pela entidade expirou na segunda-feira, 11 de março, e a pendência permanece sem definição.
Desde a confirmação da sanção, dirigentes corintianos tentam reverter a punição. Segundo interlocutores do clube, houve contato com o Santos Laguna para alterar condições de quitação, mas a direção mexicana recusou renegociar prazos ou formato de pagamento. Com a postura inflexível do credor, o Corinthians não encontrou alternativa que dispensasse o desembolso imediato do valor integral.
A insuficiência de caixa torna improvável a liquidação à vista. Sem o acerto, o transfer ban segue em vigor, restringindo contratações em períodos de inscrição nacionais e internacionais. O bloqueio representa obstáculo adicional para a atual gestão, iniciada em janeiro com o presidente Augusto Melo, que assumiu já enfrentando dificuldades financeiras e elenco em reformulação.
Além da dívida com o Santos Laguna, o clube tem mais três processos tramitando em cortes esportivas internacionais que podem ampliar a exposição a punições financeiras e esportivas. O caso com valores mais avançados é o de Rodrigo Garro. A Fifa determinou que o Corinthians pague US$ 3,6 milhões (aproximadamente R$ 19,3 milhões) ao Talleres, da Argentina, referentes à compra do meia, realizada também no início do mandato atual. A decisão inclui US$ 700 mil (cerca de R$ 3,8 milhões) de custos operacionais e juros de 18% ao ano a partir de janeiro de 2024.
Internamente, o departamento jurídico admite que a relação com o Talleres se deteriorou durante as negociações, fato que dificulta um acordo extrajudicial. Sem composição, o clube paulista corre o risco de receber novo bloqueio de registros ou sofrer multas adicionais se desrespeitar o cronograma fixado pela Fifa.
Outro litígio diz respeito ao paraguaio Matías Rojas, que deixou o Parque São Jorge no começo de 2024 alegando atrasos em salários e direitos de imagem. O atleta cobra R$ 40,4 milhões, valor que corresponde aos pagamentos previstos em contrato até junho de 2027. A disputa está na Corte Arbitral do Esporte (CAS) e aguarda julgamento. Caso o Corinthians seja condenado, o montante será somado às pendências já existentes, pressionando ainda mais o fluxo de caixa.
Há, ainda, um processo movido pelo Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. O clube europeu reivindica R$ 6,3 milhões, quantia aproximada de 1 milhão de euros, relativos a parcelas em atraso do empréstimo do meio-campista Maycon. As cobranças abrangem diferentes períodos de 2023 e 2024. Embora o valor seja inferior aos demais, o não pagamento pode resultar em novas restrições esportivas, conforme as regulamentações da Fifa para inadimplência entre clubes.

Imagem: mktesportivo.com
Somadas, as ações de Garro e Maycon podem elevar a exposição financeira a R$ 69,8 milhões, número que se aproxima de R$ 70 milhões sem considerar juros futuros. Incluindo a cobrança de Rojas, o compromisso potencial supera R$ 110 milhões. Qualquer condenação em segunda instância ou negativa de recursos ampliará o passivo e manterá o Corinthians sob risco de novos transfer bans.
Diante desse cenário, a diretoria estuda alternativas de financiamento. Entre as possibilidades estão adiantamentos de receitas de televisão e patrocínio, linhas de crédito bancário e negociações de atletas do elenco. Pessoas próximas às discussões afirmam que eventuais vendas de jogadores só ocorrerão em condições consideradas vantajosas, mas reconhecem a necessidade de receita imediata para evitar prolongamento da punição esportiva.
A área jurídica também prepara recursos à Fifa e ao CAS para retardar a execução de penalidades, estratégia que pode ganhar tempo, mas não elimina a obrigação de pagar. Enquanto isso, a comissão técnica lida com limitações no mercado de transferências e faz ajustes no plantel utilizando atletas disponíveis.
Sem acordo com o Santos Laguna e sob pressão de prazos em ações paralelas, o Corinthians enfrenta um quadro que combina sanções esportivas, passivo potencial elevado e capacidade financeira reduzida. A solução definitiva dependerá do êxito em capturar recursos suficientes para saldar as dívidas ou em negociar termos mais favoráveis antes que novas decisões judiciais ampliem as restrições vigentes.