O sul-africano Dricus du Plessis, 31 anos, afirmou que ser submetido a choques com um dispositivo semelhante a um taser faz parte de todos os seus campings de preparação e contribuiu diretamente para a conquista do título dos médios do Ultimate Fighting Championship (UFC). No sábado, em Chicago (Illinois, EUA), o atleta realiza a terceira defesa de cinturão diante do russo Khamzat Chimaev, invicto na carreira, na luta principal do UFC 319.
Du Plessis detalhou que os choques são aplicados como punição por erros repetidos durante os treinos. O responsável é o técnico Morne Visser, que, no ano passado, foi visto em imagens colocando o lutador de bruços e encostando o aparelho nas solas de seus pés. “Se o equívoco se repete, o choque vem imediatamente”, descreveu o campeão, mantendo um tom de naturalidade ao explicar o método. A prática, embora considerada incomum e controversa, é considerada por ele decisiva para seu desempenho competitivo.
No contexto legal, a posse e o porte de tasers para defesa pessoal são permitidos na África do Sul. Du Plessis ressaltou que poderia sair da academia a qualquer momento caso discordasse do procedimento, mas acredita que a abordagem diferenciada faz diferença nos resultados. “Não gosto, mas funcionou”, sintetizou, ao comparar o choque à sensação de encostar em uma cerca elétrica.
Dentro do octógono, o sul-africano acumula nove vitórias consecutivas na divisão dos médios — a sequência mais longa atualmente — e soma 24 triunfos em 26 combates profissionais. Desde janeiro, quando superou Sean Strickland por decisão, ele não voltou a lutar, mas o retrospecto recente inclui dois êxitos contra o próprio Strickland e nocautes sobre Israel Adesanya e Robert Whittaker, todos ex-campeões da categoria.
O estilo de luta de Du Plessis é considerado pouco ortodoxo. Ele costuma avançar em alta velocidade e lançar golpes em arcos amplos, estratégia que, à primeira vista, parece arriscada, mas tem rendido resultados expressivos. Segundo o campeão, a combinação entre o treinamento rígido e a abordagem agressiva sustenta sua confiança para o compromisso em Chicago.
Khamzat Chimaev, também com 31 anos, surge como o principal obstáculo ao domínio do sul-africano. O russo contabiliza 14 vitórias em igual número de apresentações, porém vem enfrentando obstáculos para manter ritmo constante de atuação. Entre 2023 e 2024, subiu ao octógono apenas duas vezes; questões de saúde, lesões e cancelamentos sucessivos travaram seu progresso.
Outro entrave recente foram problemas de visto. A ligação de Chimaev com o líder checheno Ramzan Kadyrov levou a restrições de entrada nos Estados Unidos. Segundo o lutador, a permissão para voltar a competir no país foi obtida com a ajuda do ex-presidente norte-americano Donald Trump, permitindo-lhe disputar o título dos médios agora em solo norte-americano, algo que não acontecia desde 2022.

Imagem: bbc.com
Enquanto Du Plessis atribui seu sucesso à singularidade dos métodos de preparação, Chimaev chega embalado pelo histórico impecável e pela expectativa de finalmente disputar o cinturão. O confronto desperta interesse pelo contraste de trajetórias: de um lado, um campeão que recorre a punições físicas incomuns para corrigir falhas; de outro, um desafiante cuja ascensão foi retardada por fatores externos à luta.
Nos bastidores, Du Plessis reafirma que sua motivação não está ligada a popularidade ou ganhos financeiros, mas ao objetivo de ser lembrado como um dos maiores de todos os tempos na modalidade. “Meu foco sempre foi a excelência esportiva”, declarou, ao argumentar que resultados consistentes falam mais alto que a opinião de críticos.
Ao projetar o duelo, o sul-africano acredita que a intensidade ditará o desfecho. Segundo ele, se ambos impuserem 100% de esforço, a disputa se resumirá a resistência mental e disposição para não desistir — quesitos que, na visão do campeão, o favorecem integralmente.
O evento deste fim de semana marca a primeira vez em que Du Plessis defende o título diante de um adversário invicto. Caso amplie sua sequência para dez vitórias, consolidará a maior série de triunfos da categoria desde a unificação do cinturão dos médios. Já Chimaev tenta se tornar o primeiro lutador a conquistar o título depois de apenas cinco apresentações na divisão.
Além da atração principal, o card do UFC 319 contará com outras lutas, mas a atenção está voltada para o encontro entre dois atletas que, apesar de idades iguais, trilharam caminhos contrastantes. A performance de Du Plessis sob um método de treino extremo contra a invencibilidade de Chimaev compõe o enredo que domina a expectativa para a noite de sábado em Chicago.