O avanço da inteligência artificial (IA) no esporte não deve substituir o raciocínio humano, mas ampliá-lo. A avaliação é de Arvind Iyengar, presidente da Sportz Interactive e diretor-executivo da Sportz Solutions, que participou recentemente de um podcast sobre tecnologia aplicada ao entretenimento esportivo.
Segundo Iyengar, a adoção de sistemas baseados em IA é um movimento consistente, porém exige critério. O executivo alerta para o que chama de “comandos preguiçosos”, situação em que profissionais solicitam respostas a ferramentas automáticas sem realizar antes a própria reflexão estratégica. Para ele, delegar o processo intelectual integralmente às máquinas reduz a capacidade cognitiva das equipes. “Use a IA como assistente, nunca como substituta”, resume.
A posição está alinhada à trajetória da Sportz Interactive (SI). Fundada por entusiastas que buscavam aprimorar a experiência digital do torcedor, a empresa se transformou em um grupo com cerca de 700 colaboradores distribuídos em sete países. A carteira inclui ligas e organizações como UEFA, NBA, Comitê Olímpico Internacional, Conselho de Críquete da Índia (BCCI), Fórmula 1 e a plataforma Dream11. O objetivo central é ajudar direitos-holders a captar, reter e monetizar fãs por meio de dados, gamificação e conteúdo digital.
Iyengar afirma que a expansão não desviou o foco original. “Somos uma companhia guiada por tecnologia e orientada ao torcedor”, enfatiza. Projetos precisam funcionar para quem acompanha uma partida em um celular em Mumbai ou em uma smart TV em Manchester, explica.
Com ferramentas cada vez mais sofisticadas, como Gemini e NotebookLM, o dirigente acredita que o diferencial competitivo não está no software em si, mas na forma de aplicação. Ele cita como exemplo o acordo recente entre a Premier League e a Microsoft: a simples presença de um parceiro tecnológico, observa, não garante transformação. “É preciso visão para integrar todas as frentes digitais, caso contrário surgem iniciativas paralelas que não se comunicam”, comenta.
A vivência em diferentes mercados reforça essa leitura. Na Índia, diz Iyengar, a velocidade de execução é elevada, enquanto na Europa predomina o planejamento minucioso. A SI busca conciliar essas abordagens, oferecendo soluções modulares que permitam valor sustentável em ambientes nos quais a receita de transmissão, isoladamente, já não basta.
A popularização da IA gerou previsões de ruptura: consultorias seriam dispensadas, relacionamentos com torcedores ficariam a cargo de algoritmos e o esporte se tornaria indistinto de grandes plataformas digitais. O presidente da SI discorda da visão apocalíptica. Na sua opinião, os melhores consultores – assim como os melhores casos de uso de IA – ajudam a imaginar futuros ainda inexistentes, mas a criatividade humana continua essencial para atribuir sentido a esses cenários.
A Sportz Interactive destaca que seu diferencial combina dados esportivos em tempo real, conteúdo apoiado em geração de linguagem natural e soluções escaláveis de engajamento. Entre os produtos oferecidos estão ecossistemas gamificados, ambientes de fantasy, centros de partidas e vídeos personalizados, sempre com a captura de dados primários como premissa para novos modelos de receita.
Com mais de duas décadas de atuação, a companhia pretende reforçar a posição de parceira estratégica de ligas, federações, equipes, emissoras, plataformas OTT e empresas de games. Para Iyengar, o êxito futuro dependerá da capacidade de equilibrar inteligência humana e poder computacional. “A IA é um recurso decisivo, mas seu valor real está em fortalecer o pensamento crítico, não em dispensá-lo”, conclui.
