A contratação de Marcus Thuram, concretizada sem desembolso de transferência no último verão europeu, tornou-se um dos principais casos de valorização do futebol italiano nesta temporada. Três meses e meio após assinar com a Inter de Milão, o atacante francês já é estimado em 70 milhões de euros, aproximando-se da cláusula de 95 milhões definida no momento em que firmou contrato.
A operação foi conduzida pelo diretor esportivo Piero Ausilio, responsável por dois anos de negociações para convencer o jogador, então no Borussia Mönchengladbach. A assinatura recebeu o aval decisivo do diretor executivo Giuseppe Marotta em junho, quando o Milan aparecia como favorito. O acerto reflete a estratégia do clube de captar atletas em fim de contrato, valorizá-los tecnicamente e financeiramente e, se necessário, negociar em condições vantajosas. Marotta já havia obtido êxito semelhante com Paul Pogba, comprado sem taxa pela Juventus e revendido ao Manchester United por 115 milhões de euros, e com André Onana, também negociado após chegar sem custos.
A rápida ascensão de valor de Thuram apoia-se no impacto imediato em campo. Até o início de dezembro, o francês lidera a Série A em assistências, com seis passes para gol, e potencializou o desempenho de Lautaro Martínez, autor de 15 gols no período – a melhor arrancada do argentino na carreira. A dupla, apelidada de “ThuLa”, tornou-se referência ofensiva do campeonato, mesclando a mobilidade de Thuram com a capacidade de finalização de Lautaro.
O camisa 9 mostrou versatilidade ao atuar como primeiro ou segundo atacante, alternando apoio ao companheiro e infiltrações em profundidade. Essa adaptação rápida ao sistema de Simone Inzaghi – um 3-5-2 que o jogador pouco utilizava anteriormente – foi facilitada por atenção a detalhes técnicos. De acordo com membros da comissão técnica, o francês dedica horas ao material produzido pelo departamento de análise de desempenho, revisa suas próprias atuações e estuda os defensores que enfrentará. Após cada partida, realiza também sessões de avaliação com o pai, Lilian Thuram, ex-zagueiro campeão mundial.
Aos 26 anos, o atleta mergulhou no ambiente do clube. Em comemorações de gols, reproduziu gestos históricos da torcida interista: mãos nas orelhas ao estilo Mauro Icardi, giro de camisa inspirado em Adriano e a tradicional celebração de Federico Dimarco, repetida ao lado do ala. Apenas a tentativa de imitar a pose “fuzil” de Romelu Lukaku foi desencorajada por Lautaro, em cena que chamou atenção pela sintonia da dupla.
O desempenho reforça a visão da diretoria sobre as vantagens esportivas e econômicas de contratações sem taxa de transferência. Diferentemente de jogadores que chegam em fim de carreira, Thuram foi atraído por projeto competitivo e salário de primeiro escalão. Bayern de Munique e Paris Saint-Germain tentaram contratá-lo, mas não apresentaram propostas consideradas ideais. Na Inter, transformou-se em titular incontestável, contribuindo para a disputa pelo título e elevando o valor de mercado no intervalo de um trimestre.

Imagem: gazzetta.it
No gramado, a presença do francês proporciona alternativas táticas a Inzaghi. Quando recua, cria espaços para infiltrações de meio-campistas; ao atacar a última linha, empurra a defesa adversária para trás, favorecendo finalizações de Lautaro. Além disso, sua capacidade de proteger a bola e acionar os alas se encaixa na estrutura de jogo que o clube já dominava. A evolução coletiva ficou evidente em vitórias marcantes, como a obtida em Nápoles, na qual Thuram repetiu o gesto de Adriano para comemorar.
Enquanto a temporada avança, a Inter beneficia-se do retorno esportivo imediato e da possibilidade futura de lucro significativo. Caso um clube pretenda contratá-lo, precisará negociar partindo de uma avaliação próxima aos 95 milhões estipulados em cláusula. O cenário confirma a política interista de buscar atletas disponíveis por fim de contrato, oferecendo perspectiva de crescimento competitivo e valorização patrimonial.
Com metade do calendário ainda por disputar, Marcus Thuram mantém a rotina de análises em vídeo, treinamentos específicos e diálogo constante com a comissão técnica. O objetivo é ampliar o repertório, sustentar o rendimento que o levou de custo zero a ativo estimado em 70 milhões de euros e, assim, consolidar-se como peça central do projeto esportivo do clube milanês.