Estratégias que aproximam estrelas do futebol de mercados menores na MLS

Leonardo Monteiro

Convencer jogadores de elite a atuar fora dos grandes centros tradicionais é um desafio constante na Major League Soccer (MLS). Enquanto cidades como Miami, Nova York e Los Angeles costumam atrair nomes de peso sem grandes obstáculos, clubes localizados em mercados médios ou pequenos precisam de argumentos adicionais para disputar a preferência de atletas que até então circulavam por Paris, Madri ou Londres.

A recente contratação do ídolo alemão Thomas Müller pelo Vancouver Whitecaps ilustra o método. Segundo a direção da equipe canadense, mais de 80% das conversas iniciais giraram em torno de aspectos estritamente táticos: posição em campo, ajustes de esquema e formas de potencializar o rendimento do jogador. O foco no projeto esportivo, afirma o clube, foi decisivo para superar barreiras como clima, distância e menor exposição midiática.

Embora o desempenho dentro das quatro linhas seja apresentado como fator primordial, o pacote de convencimento engloba outros pontos. Vancouver destaca a qualidade de vida, amparada por rankings internacionais que colocam a cidade entre as mais habitáveis do mundo. Já o San Diego FC, estreante na liga e líder da Conferência Oeste, exibe um centro de treinamento avaliado em US$ 150 milhões, situado em um vale ensolarado do sul da Califórnia, cercado por montanhas e próximo ao mar. A proximidade com o México também contou a favor na chegada do atacante Hirving Lozano, atraído pela oportunidade de ficar mais perto da família após anos na Europa.

Em San Diego, a direção ainda explora conexões culturais para acelerar a adaptação. O dinamarquês Anders Dreyer, por exemplo, recebeu referências de compatriotas que já atuavam na franquia e teve acesso a informações detalhadas sobre o estilo de jogo compartilhado com o FC Nordsjælland, clube “irmão” dinamarquês. Além disso, a vida fora do campo surge como diferencial: ao contrário de ambientes europeus considerados hostis em derrotas, os atletas relatam maior privacidade e liberdade no cotidiano norte-americano.

Na Costa Leste, a logística favorece Charlotte FC. O clube destaca que o Aeroporto Internacional da cidade oferece voos diretos para Londres, Paris, Milão e Madri, facilitando idas e vindas rápidas à Europa para compromissos pessoais ou comerciais. Esse argumento reforça a ideia de que jogar na MLS não significa romper totalmente os laços com o futebol europeu.

Nem sempre, porém, o esforço resulta em contrato assinado. Em 2023, o Sporting Kansas City conduziu tratativas avançadas com Cristiano Ronaldo. O processo incluiu debates sobre modelo de jogo, rotina na cidade, estrutura do clube, projeções de venda de camisas e receitas de patrocínio. Apesar do pacote elaborado, o português optou pela liga saudita. Para a comissão técnica de Kansas City, a parte esportiva foi a mais simples de apresentar; a competição com cidades como Nova York, Los Angeles ou Miami pesou no desfecho.

A mesma equipe teve sucesso com Alan Pulido. O atacante mexicano, eleito Retorno do Ano da MLS em 2023, declarou-se impressionado pelo complexo de treinamentos inaugurado em 2018 e pela competitividade do elenco. Estruturas modernas são apontadas por executivos de diferentes clubes como fator de peso para prolongar a carreira dos atletas, assegurando recursos médicos, gramados de alto padrão e rotinas de recuperação comparáveis às melhores da Europa.

Embora a MLS ainda combata a imagem de “liga de aposentadoria”, o nível técnico crescente funciona como atrativo. Segundo dirigentes de Vancouver e Charlotte, jogadores como Müller e Wilfried Zaha se surpreenderam positivamente com a intensidade dos jogos. Para veteranos que desejam estender a carreira em ambiente competitivo, a liga se colocou como alternativa viável.

Os clubes também evidenciam incentivos de performance inclusos nos contratos, como premiações por participação em Jogos das Estrelas, prêmios individuais ou metas de gols e assistências. Essas cláusulas alinham interesse esportivo e financeiro, reforçando a motivação dos reforços estrangeiros.

No campo dos resultados, Vancouver ocupa a segunda posição da Conferência Oeste e foi vice-campeão da Liga dos Campeões da Concacaf, apesar da goleada sofrida por 5 a 0 para o Cruz Azul na final. San Diego lidera a mesma conferência e exibe estilo ofensivo que, segundo a direção, facilita a venda do projeto a futuros alvos internacionais. Ambos veem nas novas contratações a peça que falta para disputar títulos de maior relevância.

À medida que a MLS planeja expansão contínua, as experiências de Vancouver, San Diego, Charlotte e Kansas City indicam que a atração de estrelas não se limita aos grandes polos. Ajustar fatores esportivos, qualidade de vida, infraestrutura e oportunidades comerciais tem permitido às franquias de menor mercado competir por atletas que, há poucos anos, só considerariam destinos tradicionais. A tendência sugere que mais cidades norte-americanas poderão se consolidar no radar dos principais nomes do futebol mundial.

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